terça-feira, setembro 30, 2008

De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável. No segundo caso, o homem que não dorme pensa: o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração.

Carlos de Oliveira

Porque um solzinho para vocês não é demais....




Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.



Amigo a gente sente!

(...)




Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.



Amigo a gente entende!








Machado de Assis











Mas há a vida que é para ser intensamente vivida,

há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota.

Sem nenhum medo. Não mata.


Clarice Lispector
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.
Clarice Lispector

Não quero ter a terrível limitação de quem vive

apenas do que é passível de fazer sentido.


Eu não: Quero é uma verdade inventada.



Clarice Lispector

Bom...bom...bom...bom....


Jabuticaba

terça-feira, setembro 23, 2008

sexta-feira, setembro 19, 2008

(...) é preciso partir

é preciso chegar

é preciso partir

é preciso chegar...


Ah, como esta vida é urgente!



Mario Quintana

sábado, setembro 13, 2008

e
às vezes
estremeço...

Não desças os degraus do sonho

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por trás das suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco este nosso mundo...


Mario Quintana

escreve a não ser

as vogais do silêncio. E este

é o nome que se dá à ausência,

quando a noite e a poeira

dos astros pousam

sobre a ranhura dos olhos.



Albano Martins
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.

Eugénio de Andrade

domingo, setembro 07, 2008


deixo a paciência dos rios

a idade dos livros


mas não lego

mapa nem bússola

por que andei sempre

sobre meus pés

e doeu-me às vezes

viver


Mia Couto
"Disse que havia duas maneira de partir:
uma era ir embora,
outra era enlouquecer"
Mia Couto


Mas ensinaste-me
a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um
apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.


Nuno Judice
Eu quase que nada sei.
Mas desconfio de muita coisa


José Rosa
Chegam cedo de mais, quando ainda não podem escolher
nem decidir. Vêm carregados de espectros, de memórias
e de feridas que não souberam sarar; mas trazem a confiança
da cura nas palavras. Convencem-se de que amam outra vez
quando nos tocam os pequenos lugares, esquecendo-se do rumo
incerto dos seus passos nas estradas tortuosas que os
trouxeram. Abafam-se num cobertor de mentiras sem saber e
falam de injustiça quando tentamos chamá-los à verdade.
Dormem de vez em quando nas nossas camas e protegemo-los
da dor como aos filhos que não iremos ter nunca
porque não nos resignamos a perdê-los. E, um dia, partem,
vão culpados, não chegam a explicar o que os arrasta. Escrevem
cartas mais tarde – uma ou duas palavras para se aliviarem dessa espada.
E nós ficamos, eternamente, sem vergonha, à espera que regressem.

Maria do Rosário Pedreira

Chama-me se quiseres


Talvez a porta se abra
se disseres o meu nome devagar. Di-lo
mais uma vez dentro da minha boca,
a trocar o corpo com o meu.
Assim, antes que eu parta,
outra vez, de vez,
para um lugar qualquer
onde mais não se espere o que não volta.

Maria Rosário Pedreira
Às vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu lugar,
cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.Mas,
quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim
.


Cecília Meireles



Vou atirar uma bomba ao destino.



Álvaro de Campos



Eis-me aqui prisioneiro
de mim mesmo
com a única saída bloqueada:

o coração


Jorge Sousa Braga

sábado, setembro 06, 2008

Sempre



«Sempre» , dizes, como se o tempo

fosse para além do que somos,

e o que somos não se perdesse em cada

canto em que nos perdemos.


Nuno Júdice

quinta-feira, setembro 04, 2008

Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.
(...)
E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.
Caio Fernando
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

hesito nas palavras...



hesito muito antes da palavra.

porque um precipício se abre nela

e não tem sentido, vibra apenas.

porque pode ser a morte

ou o nascimento para um lugar

de cores e fadas e barcos de sol.

porque me doem as mãos

cada vez que tento segurar

o mundo em traços redondos quadrados.


por isso te digo: hesito e morro e nasço.

e corro para a rua com força de quem

vai anunciar gritar chamar dizer.

mas lá fora sorrio apenas

enquanto caminho para um banco

de jardim, devagarinho,como se por um momento

eu soubesse o nome de tudo

e tudo tivesse o mesmo nome.


Vasco Gato

quarta-feira, setembro 03, 2008

Sabes....


Estou à tua espera
num sítio
onde as palavras
já não magoam,
não ferem,
não sobram
nem faltam.


Inês Pedrosa

segunda-feira, setembro 01, 2008

Sim...?!

põe-me céus de vertigem nos dias
ou mares
põe-me mares nos instantes
e acende-me nos olhos
um bonito grito
como se eu fosse a madrugada
ou aquela hora
em que numa pedra branca
me desenhas o mundo
e eu me arrependo
de enlouquecer
leva-me
leva-me pelos telhados mais altos
e ensina-me os horizontes sem fim
as árvores antigas
onde as cores das estações se escondem
onde começam os caminhos
onde acabam as fugas
onde terminam as procuras
e dá-me as cidades as mais longínquas
as que crescem das casas que sonhaste
e põe-me a teu lado
debruça-me nessas janelas
para nenhuma solidão

gil t. sousa

Não prometas nada que não possas cumprir...

Não jures nada que não sintas...

Não queiras nada que não possas ter
Não ofereças nada que não tenhas...

Sem medo



Corro para ti
Para te saber
meu
Ou
desconhecer-te

Estou farta


deste meu na garganta....

Mas que queremos da vida?..


É a vida?
O que se procura em cada segundo para se perderem cada segundo? O tempo, assim, de nada nos serve. Um dia, dando por nós próprios,
perguntamo-nos o que fizemos, por onde andámos, que cidades e casas percorremos,sem que uma resposta nos satisfaça.
A vida, então, limita-se a ser o que fez
de nós, sem que o tenhamos desejado, e
nada pode ser feito para voltar atrás, nem
para restituir os passos trocados de
direcção, as frases evitadas no último
extremo, o olhar que se desviou quando
não devia. Ah, sim - e o amor? É isso
que queremos da vida? É verdade: cada um
dos abraços que se deram, contando cada
instante; o rosto lembrado no auge do
prazer, quando um súbito sol desponta
dos seus lábios; os cabelos presos nas
mãos, como se elas prendessem o feixe
da eternidade... Assim, a vida poderá
ter valido a pena. É o que fica: o que
nos foi dado e o que damos, sem que nada
nos obrigasse a dar ou a receber, o puro
gesto do acaso na mais absoluta das
obrigações. Então, volto a perguntar: que
outra coisa queremos da vida?
Nuno Júdice

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso,

tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Fernando Pessoa