segunda-feira, setembro 28, 2009

Amor

Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida

Vinicius de Moraes

sexta-feira, setembro 25, 2009

queria que você soubesse....

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

Gonzaguinha

quarta-feira, setembro 02, 2009

não pares de me chamar


não pares de me chamar

faz de mim o sul dos teus rios

põe-me céus de vertigem nos dias

ou mares

põe-me mares nos instantes

e acende-me nos olhos

um bonito grito

como se eu fosse a madrugada

ou aquela hora

em que numa pedra branca

me desenhas o mundo

e eu me arrependo

de enlouquecer

leva-me

leva-me pelos telhados mais altos

e ensina-me os horizontes sem fim

as árvores antigas

onde as cores das estações se escondem

onde começam os caminhos

onde acabam as fugas

onde terminam as procuras

e dá-me as cidades

as mais longínquas

as que crescem das casas que sonhaste

e põe-me a teu lado

debruça-me nessas janelas

para nenhuma solidão


gil t. sousa



Claro que se tem medo que alguém nos entre pelos olhos.


Mas podes arder. Para a tua temperatura sou mercúrio,


linhas de mão, lábio e sopro. Atravesso-te porque


me atravessas e onde somos corsários rendemo-nos ao encanto da devolução.


Tu e eu à porta de um lugar que vai fechar tudo numa árvore.


Aqui onde os minutos são a rua em que nos sentamos toda


a tarde à espera do silêncio, onde o teu corpo pesa a medida exacta do meu desejo.




Sou um animal. Necessito diariamente da transfusão de uma


enorme quantidade de calor. Tocas-me?




Vasco Gato